sábado, 13 de fevereiro de 2010

Aparições

O sonhado apartamento não era novo, mas exceto a grande mancha marrom no
carpete da sala, o restante estava como tal! Após alguns dias, comecei a ouvir
ruídos, passos, e às vezes... suspiros! À noite, sonhos atiçavam meus instintos
masculinos... aquela bela morena de coxas roliças... De início, até gostei de tais
excitantes sonhos, mas em certa manhã - ao acordar com meus “instintos
atiçados”, ao levantar-me, percebi gotas de sangue formando um rastro dos “pés”
da pia do banheiro à minha cama. E ao ver através do espelho do banheiro, um
vulto atrás de mim, decidi: necessitava de ajuda! O porteiro do prédio, esclareceu
minhas dúvidas: o marido gigolô - descontente com a divisão do dinheiro dos
programas que a morena fazia, após uma discussão, a degolou com um facão. O
sangue se espalhou pelo carpete da sala e, após muita limpeza, restou aquela
mancha marrom! Somente após a visita do padre Felipe ao bendito apartamento,
consegui acabar com os ruídos, as aparições em meu espelho e, meus rotineiros
sonhos. Hoje, restaram os diários rastros de gotas de sangue e, algumas vezes,
manchas vermelhas em formato de delicadas mãos a tingir o espelho do banheiro!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Yago

Ao acordar, Yago notou que não estava em seu quarto — encontrava-se
deitado em uma espécie de maca, rodeado de flores, velas acesas e algumas pessoas.
Próxima a ele, uma senhora chorava sua morte, já os demais presentes, aparentavam
estar no local por pura obrigação. Súbito, vultos disformes invadiram o local e
passaram a rodeá-lo enquanto gargalhavam e falavam sobre a vida que teria no
mundo da escuridão. Pouco depois, outro ser se aproximou do corpo inerte — tratava-
se de um pequeno homem, finamente trajado, o qual foi reverenciado pelas demais
criaturas —, e após um leve sorriso, falou:
— Há anos acompanho seus passos, desde cedo, aprendeu a arte da mentira,
da discórdia, da dissimulação... Aproveitou-se das pessoas, roubou, maltratou,
humilhou, ironizou a desgraça dos que estavam ao seu redor... Assim, decidi estar
aqui pessoalmente neste momento, para lhe encaminhar à sua nova morada, onde
perderá a visão, a fala, e será eternamente o servo de meus servos. Pois somente a
mim cabe tanta maldade, e se lhe permitisse transitar livremente em meu reino,
brevemente tentaria tomar o meu lugar.


Pouco depois, enquanto seu corpo era cremado, Yago em desespero, era
arrastado para o mundo das trevas.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Aurora

- Muitos praguejam a vida que possuem!
Muitos reclamam de sua própria aparência!
Muitos amaldiçoam àqueles que lhes deram a vida!
Eu nada praguejo, reclamo ou amaldiçôo, pois há séculos sou rico, poderoso, jovem e
irresistível. A escuridão sempre me acolheu de braços abertos, os humanos jamais
resistiram aos meus encantos, e o sangue... Ah, o doce e quente alimento! Há séculos
possuo tudo que desejo, e se me empolguei ao me divertir com minhas vítimas e não
percebi os avisos da angustiada aurora, que precedia no horizonte meu cruel inimigo
Sol - já prestes a despontar -, a culpa é somente minha! Como um falcão se
arremessa sobre a perdiz, me lanço rumo à minha morada, mas o primeiro ataque da
estrela chamada Sol, é ainda mais veloz e toca-me levemente, provocando ardência no
local. Logo a seguir, atinge furiosamente todo meu ser. A dor é imensa... Ah, há
quanto tempo não sinto dor, há quanto tempo não sinto o pavor da proximidade de
meu fim?! Perco as forças, tombo ao chão, meu corpo começa a se dissipar e, partes
de mim, agora transformadas em pó, se dispersam ao vento... Meus sentidos entram
em declínio, é chegado o meu fim!