sábado, 6 de fevereiro de 2010

Yago

Ao acordar, Yago notou que não estava em seu quarto — encontrava-se
deitado em uma espécie de maca, rodeado de flores, velas acesas e algumas pessoas.
Próxima a ele, uma senhora chorava sua morte, já os demais presentes, aparentavam
estar no local por pura obrigação. Súbito, vultos disformes invadiram o local e
passaram a rodeá-lo enquanto gargalhavam e falavam sobre a vida que teria no
mundo da escuridão. Pouco depois, outro ser se aproximou do corpo inerte — tratava-
se de um pequeno homem, finamente trajado, o qual foi reverenciado pelas demais
criaturas —, e após um leve sorriso, falou:
— Há anos acompanho seus passos, desde cedo, aprendeu a arte da mentira,
da discórdia, da dissimulação... Aproveitou-se das pessoas, roubou, maltratou,
humilhou, ironizou a desgraça dos que estavam ao seu redor... Assim, decidi estar
aqui pessoalmente neste momento, para lhe encaminhar à sua nova morada, onde
perderá a visão, a fala, e será eternamente o servo de meus servos. Pois somente a
mim cabe tanta maldade, e se lhe permitisse transitar livremente em meu reino,
brevemente tentaria tomar o meu lugar.


Pouco depois, enquanto seu corpo era cremado, Yago em desespero, era
arrastado para o mundo das trevas.

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